quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Esporte, educação e desenvolvimento: ousar, repensar e fortalecer.

Por Marcelo Gavião.


Fico projetando o quanto será bom pra melhorar a vida do nosso povo se tais oportunidades de melhorar a estrutura das grandes cidades forem concretizadas. Em função disso, quero discorrer sobre algumas delas e chamar a atenção sobre o risco de interesses alheios aos da maior parte da população acabarem prevalecendo.
Para além de grandes eventos esportivos, a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016 devem ser encaradas como grandes oportunidades para travarmos debates a muito esquecidos ou escondidos. Como, por exemplo, a necessidade de democratizar o acesso à prática do esporte, assim como a de combinar melhor educação e esporte, além de discutir como melhorar a mobilidade urbana nas grandes cidades.
Os Jogos Olímpicos do Rio 2016 precisam se tornar os Jogos Olímpicos do Brasil. E, dessa forma, estar a serviço da urgente necessidade que temos de repensar o padrão de desenvolvimento e também a política de financiamento do esporte nacional. Isso se não quisermos, como disse na época da conquista Olímpica o presidente Lula, lutar apenas pela conquista de meia dúzia de medalhas, como tem ocorrido na história da participação de nosso país nesses jogos.
Legado
Nesse sentido, democratizar o acesso à prática do esporte será, sem dúvidas, um dos maiores legados que podemos deixar para as futuras gerações. Mas essa não será uma tarefa fácil, pois é ainda recente o pensamento que nos leva a cuidar do esporte como algo importante para o conjunto da população. Vide o próprio tempo de existência, por exemplo, do Ministério do Esporte.
Embora a história institucional do esporte no Brasil tenha iniciado no governo de Getúlio Vargas, em 1937, por intermédio da lei que criou a Divisão de Educação Física do Ministério da Educação e Cultura, foi apenas em 1998, no final do primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, que o esporte ganhou de fato status de Ministério, ainda que associado ao Turismo. E em janeiro de 2003, durante o primeiro mandato do presidente Lula, desmembraram-se os Ministérios do Esporte e do Turismo e isso possibilitou dar um novo tratamento à política de esporte no Brasil.
Quando olhamos para os governos estaduais e municipais a situação é ainda pior, pois uma parte significativa dos estados apenas passou a adotar uma estrutura própria para o esporte a partir de suas indicações como sede da Copa do Mundo de Futebol de 2014.
Novos passos
Mesmo com os avanços verificados na última década é preciso, no atual momento, adotar duas medidas no sentido de dar mais consistência a esses novos passos. A primeira é fortalecer as instituições públicas do esporte em todas as esferas de poder.
É fundamental que sejam criadas e fortalecidas as secretarias estaduais e municipais de esporte e a elas sejam dadas as tarefas de planejar e executar uma política pública voltada para o esporte que atenda as demandas da sociedade, dotando as secretarias municipais, estaduais e o Ministério do Esporte com orçamentos adequados aos seus desafios.
A segunda medida necessária é ousar repensar as bases do esporte em nosso país, rompendo com o quase monopólio dos clubes sobre a prática de determinadas modalidades.
Para isso, devemos construir uma ligação cada vez mais tênue entre as escolas, universidades e a prática do esporte.
A escola no centro
Passamos por um momento em que repensar a função da educação básica pública é uma necessidade de primeira hora. E nada mais oportuno do que se aproveitar desses grandes eventos para fazer da escola o principal pilar dessa revolução que pode ser a democratização do acesso à prática do esporte.
Outro grave problema que esses eventos devem nos ajudar a superar é a baixa capacidade de mobilidade urbana, mal do qual sofrem hoje as grandes cidades brasileiras. Com o desenvolvimento da indústria e o crescimento da economia, o acesso mais fácil a bens antes restritos às classes mais abastadas virou realidade para uma parcela cada vez maior de pessoas. Isso é uma vantagem, um sinal de desenvolvimento, mas que exige uma estruturação cada vez melhor de nossas cidades.
Um bom exemplo disso é a combinação perigosa que representa um serviço de transporte público de baixa qualidade e o alto número de veículos novos vendidos por dia no Brasil. Isso, associado à falta de planejamento que contemple o crescimento, tem feito com que algumas cidades vivam à beira de um colapso.
O curioso é que a solução para um mal que é típico de uma sociedade capitalista e individualista está justamente em ampliar os investimentos para modernizar e melhorar a qualidade de um importante setor, que é o do transporte público. Mas esse raciocínio que parece induzir a um final feliz e lógico, pode se tornar uma cilada se não for acompanhado de perto pela população.

Nenhum comentário: